Diretor da Universidade de Moçambique faz pós-doc no PPGCC

Postado por: Ana Monteiro

A ESAN recebeu, no período de 19 a 26 de outubro, o diretor da Faculdade de Economia e Gestão da Universidade Aberta de Moçambique (UnISCED), Lúcio Daniel Mavundla, para cursar seu pós-doutorado em Controle Gerencial no programa de pós-graduação em ciências contábeis, sob orientação da professora Marcia Maria dos Santos Bortolocci Espejo.

O pós-doutorando relatou que sua experiência na UnISCED, em Moçambique, contribuiu para o desenvolvimento de pesquisas no Brasil uma vez que traz a vivência do contexto moçambicano no que concerne ao ensino, pesquisa e extensão.

“Igualmente pode contribuir para a internacionalização por meio da mobilidade docente e estudante. E ainda ajudar na transformação da UFMS em uma instituição híbrida (presencial e on-line) tendo em conta o desenvolvimento tecnológico e a emergência da IA”, disse Lúcio Daniel.

Segundo o estudante, a escolha pelo pós-doc “deve-se à necessidade de melhorar habilidades de pesquisa e buscar experiências de outros povos e instituições sobre o controle gerencial sem barreiras linguísticas e muito menos cultural.”

O foco central de sua pesquisa é o controle gerencial aplicado à tomada de decisão corporativa. “Para a pesquisa em concreto, o foco é saber qual é o impacto do controle gerencial no desempenho organizacional e no acesso ao crédito”, explicou.

Mavundla destacou os seguintes pontos de convergência entre a realidade acadêmica moçambicana e a brasileira, que segundo ele enfrentam dificuldades similares:

  • Falta de recursos materiais, financeiros, tecnológicos e laboratoriais para fazer face à pesquisa científica;
  • Corpo docente parcialmente composto por profissionais sem doutoramento principalmente no contexto moçambicano;
  • Necessidade de maior formação psicopedagógica para docentes recém-integrados; e
  • Baixa interação entre ensino, pesquisa e extensão em muitas instituições no contexto dos dois países.

Lúcio Daniel ressaltou que a pesquisa em controle gerencial pode ser adotada por diferentes contextos culturais e econômicos, tanto em Moçambique como no Brasil.

“O controle gerencial pode ser adaptado a contextos culturais e econômicos, como Moçambique e Brasil, ajustando-se à realidade institucional, aos recursos disponíveis e aos fatores culturais garantindo que os mecanismos de controle permaneçam eficazes e alinhados com a gestão e os objetivos organizacionais de cada contexto”, falou.

Sobre metodologias para garantir rigor científico e aplicabilidade prática em sua pesquisa, Lúcio Daniel Mavundla relatou que “utilizará uma abordagem mista (quali-quantitativa). Será utilizado o guião de entrevista para a abordagem qualitativa e Survey para a abordagem quantitativa. Serão utilizados softwares (SPSS para a tratar os dados quantitativos e NVivo para dados qualitativos por meio da técnica de analise de conteúdo de Bardin).”

Ele informou ainda que “adotará técnicas estatísticas para análise de dados estatísticos como é o caso SEM para a análise da correlação entre as variáveis e no final definir um modelo matemático para o efeito.”

Segundo professora Marcia Maria dos Santos Bortolocci Espejo, “o projeto desenvolvido pelo doutor Lúcio é relevante sob a perspectiva de internacionalização de nossas pesquisas no âmbito do PPGCC-UFMS, ampliando o alcance de nosso trabalho. Os resultados podem impactar políticas públicas em Moçambique no sentido de beneficiar acesso ao crédito de Pequenas empresas, além de fortalecer o controle gerencial voltado a melhor performance destas organizações. Como consequência, há um claro potencial benefício socioeconômico para o país.”

Impacto Internacional, próximos passos e legado

Sobre a oportunidade de cooperação internacional entre a UnISCED e a ESAN, a partir do seu pós-doc, Lúcio Daniel Mavundla disse que existe, sim, um campo fértil de possibilidade entre as duas instituições nomeadamente: pesquisas entre os docentes e estudantes do nível de graduação e pós-graduação entre as duas instituições.

“Parceria para mobilidade docente e estudante de forma a levar a experiência de Moçambique até o Brasil e vice-versa. Possibilidade de ministrar programas de graduação e pós-graduação pela ESAN ao pessoal docente e CTA da UnISCED.”

Neste contexto de internacionalização, Mavundla relatou que “o intercâmbio em língua portuguesa fortalece a pesquisa em Ciências Contábeis porque facilita a comunicação e a partilha de ideias entre investigadores de países falantes da língua Portuguesa.”

Complementou dizendo que “sem barreiras linguísticas, torna-se mais fácil colaborar em estudos, comparar realidades, partilhar dados, metodologias e experiências profissionais melhorando assim a qualidade dos trabalhos acadêmicos para além de ampliar a produção científica e criar uma rede de investigação mais forte e integrada na área da contabilidade entre os países falantes.”

Lúcio Daniel Mavundla ressaltou que Moçambique é um dos países de língua portuguesa que pode contribuir para o debate sobre controle gerencial e oferecer um contexto onde assiste-se elevada informalidade das PMEs com recursos limitados, empresas públicas com desafios de governança e uma digitalização ainda em consolidação.

“Estas características permitem analisar como sistemas simples, informais ou parcialmente estruturados de controle são utilizados para garantir eficiência, transparência e tomada de decisão, sobretudo em ambientes de baixa maturidade institucional e algum momento uma gestão empresarial familiar. Assim, o país funciona como um caso real para estudar como mecanismos de controle podem ser adaptados e eficazes em mercados emergentes com enfoque para as PMEs”, destacou.

Mavundlav acredita que a pesquisa na área de controle gerencial “fortalece a formação de líderes, acadêmicos e profissionais ao desenvolver a capacidade de analisar informação, alinhar recursos com a estratégia e tomar decisões de gestão fundamentada. Ao integrar teoria e prática, promove pensamento crítico da liderança, rigor metodológico e competências essenciais para melhorar o desempenho organizacional e contribuir para o avanço da ciência na área das ciências contábeis.”

Perguntado sobre quais os próximos passos após o pós-doutorado, Lúcio Daniel Mavundla relatou que “terminado o estágio a perspectiva é continuar a contribuir por meio de pesquisa nas políticas públicas em Moçambique, Brasil e outras partes do mundo. Fazer por meio da pesquisa diversas publicações em revistas científicas de alto impacto e fazer a publicação de livros científicos da área de controle gerencial. Impactar estudantes de graduação a seguirem a área das ciências contábeis.”

Sua fala final foi sobre o legado que espera deixar para o NUPECON e para o PPGCC.

“Espero deixar a experiência de pesquisa no contexto Moçambicano onde, mesmo com recursos limitados, a pesquisa decorre por meio de parceria. Deixar a realidade do controle gerencial em Moçambique. Deixar conhecimento sobre a tributação em Moçambique em impostos específicos (IVA, IRPS, IRPC e ISPC). Dar a conhecer sobre as PMEs no contexto moçambicano e as condições de acesso ao financiamento pelas PMEs em Moçambique.”

Para o diretor da ESAN, professor Claudio Cesar da Silva, esta visita representa não apenas um avanço acadêmico, mas também um importante passo para o fortalecimento das relações internacionais da nossa instituição.

“Acreditamos que essa parceria contribuirá para o intercâmbio de experiências e para a construção de novos caminhos de cooperação científica entre Brasil e Moçambique. A ESAN se orgulha em ser espaço de acolhimento e de produção de conhecimento que ultrapassa fronteiras, reafirmando nosso compromisso com a excelência e com a integração global”, finalizou.

A UnISCED está localizada na cidade da Beira, Província de Sofala, em Moçambique.

Texto: Comunicação ESAN UFMS

Fotos: Nupecon